segunda-feira, 25 de abril de 2016

Descobertos recifes na foz do Rio Amazonas, no norte do Maranhão


Cientistas descobriram um gigantesco ecossistema debaixo da pluma de água em lugar onde, teoricamente, esse tipo de ambiente não deveria existir

Sistema estende-se do norte do Maranhão até a Guiana Francesa
Sistema estende-se do norte do Maranhão até a Guiana Francesa (Foto: NASA Earth Observatory)
SÃO LUÍS - Cientistas brasileiros descobriram um gigantesco ecossistema recifal "escondido" debaixo da pluma de água barrenta do Rio Amazonas que se derrama sobre o oceano na costa norte do Brasil - um lugar onde, teoricamente, esse tipo de ambiente não deveria existir.

Alojado em águas profundas, de até 120 metros de profundidade, o sistema todo é maior do que a região metropolitana de São Paulo. Tem cerca de 9,5 mil quilômetros quadrados, estendendo-se do norte do Maranhão até a Guiana Francesa.

A descoberta, relatada ontem na revista Science Advances, foi confirmada em uma pesquisa realizada em 2014 com o navio Cruzeiro do Sul, da Marinha. Os cientistas suspeitavam que poderia haver recifes ocultos na foz do Amazonas, por causa de algumas coletas pontuais, feitas anteriormente por pesquisadores americanos, e da alta produtividade da pesca regional de lagosta, pargo e outras espécies marinhas naturalmente associadas a ecossistemas recifais.

Ainda assim, quando puxaram as primeiras redes de coleta para cima, não acreditaram no que viram: uma enorme abundância de esponjas coloridas, corais e rodolitos - nódulos calcários construídos por algas coralináceas, também presentes em outros ecossistemas recifais do Nordeste.

"Descobrir um sistema desse tamanho e com essa complexidade nos dias de hoje é um alerta sobre o nosso desconhecimento dos ecossistemas marinhos brasileiros", diz o pesquisador Rodrigo Leão Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que liderou o estudo.

A maioria dos recifes está na faixa de 60 a 80 metros de profundidade, onde a quantidade de luz já é ínfima. Pior ainda quando se está debaixo da pluma de sedimentos do rio, que pode variar de 5 a 25 metros de espessura e se espalhar por até 2 milhões de km2, dependendo da época do ano.

Por causa dessa escassez de luz, a paisagem dos recifes é dominada por esponjas e algas duras (coralináceas), em vez dos tradicionais corais - que dependem da fotossíntese para sobreviver.

"É um ambiente muito mais complexo do que a gente imaginava", diz o biólogo Gilberto Amado Filho, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

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