quarta-feira, 30 de julho de 2014

Ator maranhense Fernando Braga terá papel de destaque no longa No Retrovisor, uma adaptação da obra de Marcelo Rubens Paiva

“Ser ator é desejar viver além de mim”
 
Ator maranhense Fernando Braga terá papel de destaque no longa No Retrovisor, uma adaptação da obra de Marcelo Rubens Paiva
 
Italo Stauffenberg
Da equipe de O Estado
 

Fernando Braga - ator

Seguindo o exemplo de outros artistas locais que saíram do Maranhão para fazer carreira no eixo Rio-São Paulo, o ator Fernando Braga já começa a se destacar em alguns papéis importantes no teatro, cinema e participações em novelas. Recentemente, ele participou das gravações do longa-metragem No Retrovisor, adaptação de texto de Marcelo Rubens Paiva e dirigido por Mauro Mendonça Filho. O filme deve estrear em 2015 nos cinemas. Ele contracenará com outro maranhense, o ator Rômulo Estrela e também com Maria Casadevall, Marcelo Serrado e Bárbara Paz para contar a história de amizade entre dois jovens, interrompida por um acidente que cegou um deles. Anos depois, eles se reencontram e relembram o passado. No filme, Braga interpreta Percival, o melhor amigo do personagem de Rômulo Estrela, um dos protagonistas da trama.
Fernando Braga ingressou no cenário artístico no Coral Infantil Amor e Vida, chegando a gravar um LP. Foi aluno do coral do Teatro Arthur Azevedo. Iniciou os estudos de teatro aos 13 anos no Centro de Criatividade Odylo Costa,filho. Quatro anos depois, participou do curso de formação Teatro Experimental do Maranhão (TEMA). Além de vários cursos e oficinas, participou das montagens: A Bela e o Vampiro Apaixonado (musical infantil), O Largo do Desterro (baseado no livro de Josué Montello), O grande Amor de Gonçalves Dias e A Bruxinha que era boa. Em São Paulo, participou das montagens: Primos (Drama) e Segundos (Drama – Teatro Físico) dirigidos pelo Inglês Patrick Campbell.

O Estado - Desde pequeno você tem admiração pela atuação. Já participou de cursos de teatro e em alguns curtas e séries de TV. Para você, o que é ser ator?
Fernando Braga - Ser ator é desejar viver além de mim, além dos meus próprios pensamentos e certezas. Atuar é viver outras possibilidades, dialogar com o mundo e as questões da nossa sociedade, tanto do ponto de vista político, como religioso e social.

O Estado - Além de ator, você exerce outra profissão?
Fernando Braga - Sim, sou formado em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda. Profissão que me deu a oportunidade de conhecer e trabalhar em grandes agências e profissionais do mercado publicitário de São Paulo.

O Estado - É difícil conseguir um espaço no cenário artístico?
Fernando Braga - O caminho não é fácil. Todos os dias você convive com os dois lados da moeda. Às vezes você acorda com uma ligação que te anima quando você é chamado para um teste, mas dorme, algumas vezes, com o não, por não ter passado. Além disso, existe um padrão estético que o mercado impõe que chega a ser cruel. Vejo amigos fazendo de tudo para se adequar a ele. O mercado é restrito, as chances de você chamar a atenção de um produtor de casting quando você não tem um agente ou não e tem um trabalho a mostrar é quase zero. Ainda mais quando ainda não se definiu com ator, aí, é nadar em águas profundas.

O Estado - Em algum momento já pensou em desistir da profissão artística?
Fernando Braga - Da “profissão sucesso” sim, de ser artista não. Hoje eu escrevo e produzo meus trabalhos. Tenho uma linha autoral que me permite na falta de convites, me exercitar e desenvolver meu ponto de vista como ator. Desistir da arte seria como estar desistindo de viver, portando, não vejo essa possibilidade como solução.

O Estado - Possivelmente, você saiu de São Luís em busca de novos horizontes profissionais. Em sua atual cidade, percebeu evoluções na carreira?
Fernando Braga - Comecei em São Luís, estudei dança com o querido Reynaldo Faray, a quem sou grato. Mas em São Paulo, tive contato com um teatro de pesquisa, que apresenta e pensa nossa condição com uma estética que não conhecia. Ao conviver com esses atores, encenadores, de certa forma, provoca em você outro olhar sobre a arte, abre caminhos de possibilidades. Ao longo dos seis anos fora de São Luís, me percebo tanto como artista quanto pessoa, um crescimento que só está começando.

O Estado - Por ser nordestino nas cidades em que você já passou e tentou realizar atividades profissionais, você sofreu algum tipo de preconceito?
Fernando Braga - Tanto em São Paulo, como no Rio de Janeiro, já sofri preconceito sim. Em um dos cursos que fiz no Rio recentemente, fui recebido de forma repulsiva pelos colegas – atores e atrizes lindos. Cheguei a ouvir que não merecia estar ali, que não tinha condição de pagar pelo curso. No final dos dois dias, eu era sensação entre eles, pelo meu comportamento, pela boa educação que recebi dos meus pais e, claro, pelas boas cenas que fiz. Viram talento em mim. No final, os que se permitiram, pediram desculpas pela primeira impressão que tiveram. Infelizmente o preconceito existe. Ele é real. Mas sei o valor que tenho e não me abato por isso.

O Estado – O que você considera mais importante nestes anos de carreira?
Fernando Braga - Eu considero os nãos recebidos, que, de certa forma, provocaram uma mudança positiva em mim. Considero os poucos, mas grandes amigos que tenho feito nessa breve jornada e que já entraram comigo em sonhos que criei. Foi assim, na peça Segundos que escrevi e atuei e que foi dirigida pelo inglês Patrick Campbell.

O Estado - Para você, o que São Luís representa?
Fernando Braga - Minha casa. Meu porto. Meu refúgio. Aqui eu sei que estou seguro. Gosto de voltar a cidade e andar pelas ruas que andava quando criança. Bom é andar pela cidade e ver a nossa gente, ouvir o nosso tom de falar, nossas gírias. Espero um dia ter a sorte de levantar com orgulho a nossa bandeira, por ser mais um representante do nosso estado lá fora.

O Estado - Até o momento, qual trabalho artístico que você considera o mais relevante e que mais acrescentou bons aprendizados em sua vida?
Fernando Braga - Destaco a peça Segundos. Foram seis longos meses de treino e ensaio com o diretor inglês Patrick Campbell. Nesse trabalho, adquiri outra consciência do meu corpo e voz, que até então eu não tinha. Foi um processo doloroso. Digo até que sofri, mas o resultado foi um espetáculo que conquistou o público que assistiu. Esse trabalho me melhorou muito como ator.

O Estado - Atualmente, três atores maranhenses circulam no mercado nacional. São eles, Solange Couto, Déo Garcês e Rômulo Estrela. Que atividades você desenvolve ou articula com esses atores?
Fernando Braga - Tive contato há pouco com a Solange, no curta Walter do 402, dirigido pelo querido Breno Ferreira, também de São Luís. Com o Déo, tenho uma relação mais pelas redes sociais. O Rômulo, eu conheci nas filmagens de No Retrovisor. É um cara que aprendi admirar, não somente pelo comprometimento em cena, mas pela educação, carinho e cuidado que teve comigo. Um grande sujeito.

O Estado – Como foi sua participação no filme No Retrovisor, uma adaptação da obra de Marcelo Rubens Paiva, que foi dirigida por Mauro Mendonça Filho e será lançada pela Globo Filmes?
Fernando Braga - As filmagens do longa terminaram no início de junho. Eu faço o Percival, um gerente de hotel na primeira fase do filme, que depois vira o melhor amigo do Ney, vivido nessa fase, pelo Rômulo Estrela.

O Estado - Está atuando em algum trabalho artístico? Já há outro em vista?
Fernando Braga – Estou realizando ensaios do espetáculo que vou estrear no Rio. No cinema, gravo ainda nesse segundo semestre o filme Domingo.

Nenhum comentário: