quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A epopéia do Itaqui


Ante as previsões de que o Itaqui se tornará em breve o maior porto brasileiro na esteira do desenvolvimento dos pólos minometalúrgico e agrícola que se estendem do Maranhão ao Brasil Central, vale lembrar toda uma história secular de lutas, de sonhos e desilusões, ligada ao esforço para o reconhecimento da posição estratégica que o Estado iria ter no sistema de transporte marítimo nacional.
Foi o Duque de Caxias, em 1841, quem propôs, pela primeira vez, a construção do porto. Na época ele governava então o Maranhão. Todas as tentativas posteriores para relançar o projeto caíram no vazio. Coube ao então deputado José Sarney, no final dos anos 50, ressuscitá-lo.

A promessa de Jânio

Concretamente, Sarney, vice-lider da Oposição na Câmara Federal, relançou o projeto ao escrever o discurso que Jânio Quadros, candidato à presidência da República, proferiu em São Luis, no quadro de sua campanha eleitoral. Jânio prometeu implantá-lo e no seu curto período de governo autorizou a importação de estacas de aço para a construção dos primeiros gabiões do porto. Mas com a renúncia de Jânio, o sonho do Itaqui se desvaneceu.

Sarney, porém, não cruzou os braços. Em 1966, ele governava o Estado quando o regime militar criou o Geipot, órgão destinado a organizar o modelo de transportes para o Brasil. Em seu relatório final de estudos, o Geipot propôs a supressão do projeto do Itaqui com o argumento de que a obra não tinha viabilidade econômica.

Indignado, Sarney procurou o Ministro dos Transportes, Mario Andreazza, que concordou em vir a São Luis para examinar a questão. Dito e feito. O jovem governador maranhense e sua equipe receberam o Ministro e demais autoridades que o acompanhavam num barracão armado na área do Itaqui. Nas paredes do barracão foram pregados os mapas mostrando que o porto iria servir não apenas ao Maranhão, mas a toda uma região compreendendo o Piauí, o Pará, o Brasil Central e o Norte da Bahia.

A “briga” com o Almirante

Depois de ouvir Sarney realizar a defesa inflamada, arrebatada e contundente da obra, o almirante Clóvis Ribeiro, diretor da Divisão de Portos, pediu a palavra para contestar os “arroubos sonhadores do jovem governador”. E assinalou, peremptório:
– Governador, o Brasil mudou. Não vai mais jogar dinheiro público fora com decisões meramente políticas. Este porto não tem estudo de viabilidade econômica.
Sarney rebateu no ato:
– Perdoe-me Almirante, mas o Itaqui tem estudo de viabilidade econômica.
Clóvis replicou:  – Não tem!
O bate-boca tem-não-tem durou pouco porque o almirante caiu na armadilha verbal urdida por Sarney, ao desafiá-lo com essa solicitação:
– Pois, mostre, governador, o plano de viabilidade que não existe!
Calculadamente, Sarney puxou Caxias da memória e metralhou:
– Talvez, Almirante, o Senhor não saiba que o Duque de Caxias governou o Maranhão em 1841, no tempo da Balaiada. Então, em sua mensagem à Assembléia, ele disse da necessidade de se construir o porto do Itaqui. Não acredito que Caxias fosse fazer o porto sem fazer o estudo de viabilidade econômica. Almirante, o Maranhão e o Brasil esperam esta obra há mais de um século e sua necessidade é mais clara do que todos os estudos de viabilidade.

Ante a risada de aprovação dada à fala candente do governador, o Almirante ficou meio encabulado e Andreazza determinou então:

– Clóvis, retira o Itaqui da lista das obras sem prioridade.Vamos fazê-lo com absoluta pressa. Sarney, virei visitar várias vezes a obra – e vamos inaugurá-la.

A maior avenida do mundo

Foi assim que Sarney redefiniu a posição do Maranhão no mapa, no quadro da geopolítica brasileira.
Hoje, o Itaqui é o segundo porto do Brasil. Em certa ocasião, ao visitar Sarney em sua residência do Calhau, o presidente de Portugal, Mário Soares, olhou pela janela aquela fileira de navios estacionados no canal da baía de São Marcos, aguardando a vez de ancorar no Itaqui. Virando-se para Sarney, Soares perguntou:
– Presidente, o que transportam esses navios?
– Ferro para o Japão e a China.
Soares:
– É a mais longa avenida do mundo. De São Luis a Tóquio.                             

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse velho Sarney é duuuuro!!!

Anônimo disse...

Esse velho Sarney é duuuuuro!!!